Texto por: Marcel Lyra | Arte por: João Diório

Brasil, continuamos às cegas na guerra às drogas
A chamada, triste e sem limites, “Guerra às Drogas” já está fadada ao fracasso, mas para nós brasileiros ainda não sabemos quando. Segundo um levantamento de dados da iniciativa liderada por pesquisadores do CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), a pesquisa ‘Um Tiro no Pé: Impactos da proibição das drogas no orçamento do sistema de justiça criminal do Rio de Janeiro e São Paulo’, que integra o projeto ‘Drogas quanto custa proibir’, somente nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro o gasto foi superior a R$ 5 bilhões em um único ano.
O pior é que a parte financeira não é a principal falta de senso, a “Guerra às Drogas” mira em jovens periféricos e negros. Na apreensões somente de Cannabis, no estado de São Paulo, os negros foram proporcionalmente mais condenados portando quantidades inferiores. Os dados mostram que 71% dos negros foram condenados, com apreensão mediana de 145 gramas, entre os brancos 64% foram condenados com apreensão mediana de 1,14 quilo, um número quase oito vezes maior em relação ao número apreendido. Esse levantamento foi feito pela Agência Pública em um ano com base nos processos julgados, e disponíveis para acesso público online e digitalizados no portal do Tribunal de Justiça (TJ-SP) para a cidade de São Paulo no ano de 2017.
Para completar nossa trágica e midiática “Guerra às Drogas”, o Brasil tem a pior política de drogas do mundo, de acordo com o Global Drug Policy Index, relatório internacional inédito publicado em 2021, que avaliou a forma como 30 países lidam diretamente com o problema. Nosso baixo “desempenho” é fruto das milhares de mortes causadas por policiais e outros agentes do Estado em operações em nome dessa guerra e as poucas políticas de saúde públicas oferecidas pelo País. Nesse mesmo relatório fomos considerados o único país onde os assassinatos extrajudiciais por policiais ou outros agentes do Estado se tornaram um problema endêmico. Apenas em 2020, foram registrados 6.416 mortes em intervenções.
No primeiro semestre de 2021, a população na Região Metropolitana do Rio de Janeiro teve que enfrentar um aumento desordenado da violência armada que registrou uma média de 15 tiroteios por dia. É o que mostra o relatório do Instituto Fogo Cruzado. Essa guerra é tão desenfreada que esquecemos que policial mata mais também morre, segundo dados do próprio Instituto foram registrados 94 agentes de segurança baleados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 38 morreram e 56 ficaram feridos. O número de baleados já é 27% maior que o registrado no mesmo semestre de 2020. Cerca de 44% dos agentes foram atingidos quando estavam em serviço, ou seja, as operações policiais são um risco para toda a comunidade, incluindo os mesmos policiais.
A medida que o mundo vai legalizando estamos enxugando gelo, presos em uma falsa narrativa midiática voltada para criminalizar a maconha, dentro de um sistema de moer pessoas negras e produzindo números de pessoas mortas dignas de guerras declaradas, seja o jovem que morre ou o policial em heroísmo cego, produzimos vítimas de violência brutal.
Verdade seja dita, há uma luz, temos uma movimentação jovem e muito forte se criando em prol da legalização da maconha, e precisamos de cada vez mais pessoas, de diversas esferas sociais, nas mais diversas profissões, na luta normalizando o uso da cannabis em seus mais variados usos. Precisamos acelerar essa normalização para que possamos pressionar ainda mais a descriminalização da maconha, sendo o primeiro passo para legalidade. Em um país onde as cadeias estão lotadas por crimes sem violência em relação a cannabis devemos nos organizar, não podemos e nem devemos mais sermos tratados como criminosos.
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